(Fotos:
Reprodução / Divulgação)
Porto
Seguro
Todo santo dia, sem exceções, rolam
festanças para mais de 2000 pessoas até as gloriosas
4 da matina, faça chuva ou faça sol. Esse abrigo
da curtição em tempo integral é Porto Seguro
ou simplesmente Porto, como preferem seus moradores e fiéis
visitantes.
Quem
não quiser acreditar que atire a primeira pedra
de gelo, por favor, que o calor é arretado. A primeira
cidade a cair na folia os 365 dias do ano tem uma longa e reconhecida
história de pioneirismo. Você sabe muito bem que
esse pontapé inicial foi dado há cinco séculos,
quando em Porto Seguro começaram como a miscigenação
e o próprio Brasil.
Em
outros endereços, as barracas se contentam em ser um abrigo
para proteger-se do sol, bebericar uma geladinha e
traçar uma isca de peixe. Mas aqui são outros 500.
Em Porto Seguro, à beira do mar, a coisa muda da cerveja
para o capeta o drinque local, que mistura guaraná
em pó e bebida alcoólica. As barracas podem ter
as dimensões de um estádio de futebol, a estrutura
de um shopping center, as opções de um clube e,
ainda, diversos ambientes, cada um fazendo soar um gênero
musical sempre ao vivo e quase sempre com aulas gratuitas
de dança. Por isso, as maiores ousam se definir como centros
de lazer, complexos de lazer ou casas de espetáculos.
Entre
uma festa e outra, pode-se descansar em praias tranqüilas
assim sobra-se tempo, espaço e capeta para todos, principalmente
no verão, quando a população chega a triplicar
juntando-se ao seus 60 mil viventes. Sobram motivos, também,
para explicar porque, afinal, Porto Seguro é tão
procurada quanto picolé na praia.
Podemos
começar pelas belezas naturais, tão generosas quanto
as medidas das dançarinas de axé. A região
tem enseadas, baías, falésias, rios e coqueiros.
Muitos coqueiros. Tem também um número de visitantes
que acelera a cada temporada.
Evidentemente,
o privilégio de ser o centro nordestino de lazer mais próximo
das maiores cidades do país tem muito a ver com essa procura.
Até porque os preços dos pacotes turísticos
saem mais baratos.
Porto
de Galinhas
Até alguns anos atrás, Porto de Galinhas
era o segredo mais bem guardado do Nordeste. Com 18 quilômetros
de praias cheias de coqueiros e piscinas naturais, a 58 quilômetros
de Recife, era um paraíso dividido apenas entre os pescadores
locais e os veranistas mais descolados de Pernambuco.
De
repente, porém, foi descoberta por gente famosa, ganhou
as colunas sociais do País inteiro e começou a atrair
grupos cada vez maiores de turistas, principalmente de São
Paulo. Em dois ou três verões, suas pousadas simples
ganharam a companhia de seis hotéis bem equipados.
Além
da beleza de suas praias, o sucesso de Porto de Galinhas também
está no charme de ser um centro urbano pequeno, descontraído
e alegre, onde anônimos e famosos podem caminhar tranqüilos
pelas areias e dividir uma jangada até as piscinas naturais.
Talvez
por influência do tom azul-esverdeado de suas águas,
que lembram o Caribe, os drinques coloridos e cheios de enfeites
são uma mania local, mas o café da manhã
nos hotéis, à base de tapioca, cuscuz e macaxeira
com charque, não nos deixam esquecer que estamos mesmo
no Nordeste.
Morro
de São Paulo
Temos
algumas boas notícias para os moradores das grandes cidades
brasileiras. A primeira: existe um lugar, em nosso País
onde as ruas não têm buracos. A segunda: nesse lugar
não há carros para caírem nos buracos. A
terceira:nesse lugar não existe nem ao menos ruas asfaltadas
para trafegarem carros que possam cair nos buracos. E aqui está
o endereço: Morro de São Paulo, pequena vila da
ilha de Tinharé, a 270 quilômetros e 30 minutos de
lancha de Salvador, na Bahia.
Esse
clima de vilarejo de novela das sete ganha realce com algumas
relíquias da época colonial, como um portal erguido
em 1628, uma igreja do século 19 e a Fortaleza de São
Paulo, um conjunto de muralhas do século 17 que soma quase
700 metros de extensão. Esta bem dosada mistura de praias,
simplicidade e pitadas históricas hoje atrai turistas de
São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A vila
é bem dosada: tem praias tranqüilas, gente bonita,
história, boa comida e, acima de tudo, personalidade
A mais
agitada é a Segunda Praia. É lá que acontece,
toda noite, o tradicional Luau do Morro, uma festa que começa
depois das onze e, no verão, costuma esticar até
o sol aparecer. O axé e o reggae em altíssimo volume
escapam dos alto-falantes das barracas Ponta da Ilha e Caitá
que, em respeito aos ouvidos dos visitantes, se revezam na empreitada.
Mas
mesmo com toda essa muvuca na alta temporada, Morro
ainda é chamada de Porto Seguro de dez anos atrás.
Ou seja, é um lugar que está na moda, mas ainda
não chegou ao limite do insuportável. Até
porque ainda é lugar de gente bonita, esclarecida, preocupada
em não jogar lixo na praia e mobilizada para que tudo continue
exatamente do jeito que está. Há uma simpática
confraria de nativos, paulistas, cariocas, novos baianos e até
italianos defendendo Morro com unhas e dentes.
Natal
Todos os dias, duzentos buggies sobem e descem o
mar de dunas, como velhos galeões galgando ondas. O mar
acaba logo ali, dá para ver da areia, embora às
vezes pareça uma miragem de tão transparente.
A diferença
é que não há silêncio. O motor grita
na areia, levanta os grãos, irrita os olhos. E as dunas
vão sendo vencidas, uma a uma, como vagalhões de
águas tempestuosas, pelos pequenos e bravos buggies. Uma
espécie de símbolo de Natal. Quem nunca enfrentou
uma duna num veículo desses não sabe o que é
essa sensação.
Natal
fica na ponta direita do Brasil, onde o mapa faz a curva. Fica
ao norte do Recife e ao sudeste de Fortaleza. Vôos, cada
dia mais econômicos, unem o resto do país a Natal.
Natal
não deve nada para lugar nenhum. Ela é uma das mais
perfeitas conjunções de mar, areia e sol do País.
É
verdade: 50 anos atrás Natal mal constava dos mapas. A
cidade foi, por séculos, um incipiente povoado. Documentos
mostram que, 150 anos depois de oficialmente fundada, numa missa
que aconteceu no dia de Natal - sim, o nome vem daí - a
cidade era um lugarejo de apenas 118 casebres.
Foi
a chegada dos americanos, porém, que tornou a cidade conhecida.
E isso só aconteceu porque algum cartógrafo do Pentágono
calculou que, entre todas as terras do Brasil, Natal era a que
mais próxima ficava da África, o que podia, então,
ser considerada uma posição estratégica.
Foi
nessa época que nasceu o termo forró, corruptela
do inglês for all (para todos) que era como os americanos
chamavam os bailes de arrasta-pé que os militares realizavam
para se integrar à comunidade (alguns historiadores contestam
essa história, argumentando que o termo forró seria
originário de forrobodó).
Não
é preciso, porém, mais do que uma tarde para explorar
todas as atrações históricas de Natal - e
ainda assim sobrará tempo para assistir ao pôr-do-sol
a bordo de uma cerveja gelada. Natal é simples assim. Embora
já conte com 700 mil habitantes, pode-se dominá-la
quase instantaneamente. A porção central da cidade
é comum. As praias dessa parte também não
têm muita graça, especialmente se comparadas com
o que há por perto. A chamada Praia dos Artistas, que alguns
folhetos tentam apresentar como encantadora é,
na verdade, um lugar deteriorado pelo primeiro boom de turismo
dos anos 70, que deixou a paisagem cheia de prédios de
gosto duvidoso e uma concentração promíscua
de botecos, barracas e lojinhas. O lugar só tem graça
de noite, porque alguns estabelecimentos oferecem música
ao vivo e ali funciona o movimentado Chaplin Shopping Night, que,
por trás do nome pomposo, esconde um conjunto de bares,
boates e restaurantes muito freqüentado.
Desta
parte para o sul, Natal esparrama-se em dois setores distintos,
separados pelo imenso Parque das Dunas, área protegida
por lei. O que passa longe da costa é a porção
moderna da cidade, endereço de shoppings e condomínios
onde os natalenses vivem. Já do outro lado das dunas, espremida
entre elas e o mar, estendem-se os dez quilômetros da Via
Costeira, que unem o centro à Ponta Negra. Assim como Paris
tem a Torre Eiffel e o Rio, o Pão de Açúcar,
a marca registrada de Natal é o Morro do Careca. Não
é nada tão diferente assim: apenas um trecho de
colina, com uma faixa de duna arrancada à vegetação,
lembrando o corte de cabelo dos índios apaches (ou seriam
os moicanos?). Porque, embora sejam apenas montes de areia ao
sabor dos ventos, as dunas do Rio Grande do Norte se prestam a
todo tipo de diversão. A mais simples delas é o
chamado Esquibunda, modalidade que, como o nome explica, acopla
o poder deslizante da duna à aerodinâmica das nádegas,
produzindo o efeito de um escorregador. Ela é mais apreciada
quando há água embaixo, porque o passeio termina
num prazeroso tchibum! Porém, embora singelo
lazer,
a esquibundagem anda na mira dos preservacionistas.
Jericoacoara
Jeri
já tem luz e o mundo não acabou. Pelo menos por
enquanto. As noites esplendidamente estreladas ganharam um silêncio
que o povo nem lembrava que existia, tantos anos conviveu com
o rosnar monótono de dezenas de geradores de luz. O cheiro
de óleo diesel queimado, que a brisa do mar nunca deixou
se tornar um incômodo mais forte, também não
se sente mais. Nem os cearenses imaginavam que possuíam
tamanho tesouro 320 quilômetros ao norte de Fortaleza.
Por
falta de referência, tampouco os próprios moradores
do povoado tinham idéia de que viviam numa localização
tão especial. Mas Jeri é, sim, digna da fama que
se espalhou. Se você nunca veio para cá, imagine
o seguinte: 20 quilômetros sertão adentro há
uma grande lagoa de água doce acomodada nas curvas de um
mundão de areia. Na beirada dessa lagoa limpinha, cujas
águas mudam de cor conforme a época do ano, fica
o que se pode, com alguma boa vontade, chamar de cidade, até
porque já constava dos mapas cearenses há muitos
anos. Pronto: isso é Jericoacoara. Isso e mais um céu
azul de 300 dias por ano, um sol forte amenizado pela brisa que
nunca pára e a rala vegetação de alagadiço,
comum nesses confins do Ceará.
De
toda maneira, ainda que Jeri seja, de fato, uma rara viagem possível
a um paraíso em mutação, não são
antropológicos os motivos que atraem os turistas. Mais
que o despertar do progresso, os visitantes querem mesmo é
curtir o sol na Praia da Malhada, tida como a melhor para os banhistas
em Jeri. Ou mergulhar na água doce da Lagoa do Paraíso
a tal que começa em Jijoca e espalha-se dentro das
dunas.
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