Detalhe da arquitetura das casas inglesas,
de madeira, construídas em 1897
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(Issao Minami
/ Fotos: Adauto Gonçalves Rodrigues / Arquivo Nippo)
Vila de
Paranapiacaba, outrora Alto da Serra, é um núcleo
urbano tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado
de São Paulo, em 1987, conjuntamente com o complexo ferroviário
que deu origem à Vila e, também, com o entorno próximo,
que é uma reserva biológica de grande importância
para o ecossistema da Serra do Mar. Agora, neste ano, o Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional) finalmente considerou também a Vila um patrimônio
histórico nacional.
Este complexo
foi planejado, empreendido, construído e mantido pela São
Paulo Railway Co. Ltd., uma single-enterprise
ferroviária, de 1860 até 1946. Nesse período,
Alto da Serra foi um modelo de vila operária que nasceu
e sempre viveu em função de uma única atividade
e onde imperou uma relação de paternalismo entre
os trabalhadores e a empresa. Historicamente, Alto da Serra é
composta pela junção de três partes: a Vila
Velha, que é o núcleo original, a Vila Martin Smith,
a parte projetada, e a Parte Alta ou a Vila dos Aposentados.
Cabine de controle da ferrovia desativada; ao fundo, o relógio
trazido
pelos ingleses, ainda em funcionamento, uma espécie de
Big Ben
Cenário
para muitos filmes
Alto da Serra
já em 1887 despertava o interesse de Júlio Ribeiro,
que retratou, em seu romance A Carne, passagens neste
lugarejo. Com a chegada do cinema, no entanto, a bucólica
povoação, sempre envolta numa densa neblina, tornou-se
locação preferida pelos cineastas e publicitários
nacionais.
Locobreque que transportou os imigrantes; hoje, só para
exposição. Também, ponte que separa o lado
português do lado inglês da Vila, local da exposição
fotográfica Vistas da Ponte, ao ar livre
Máquina fixa de 1921 e desativada na década de 80:
em exposição no Museu Ferroviário
José
Mojica Marins, o Zé do Caixão, utilizou
Paranapiacaba para seus filmes de terror. João Batista
de Andrade, inspirado num romance de Geraldo Ferraz, fez com que
Paranapiacaba se transformasse na irrequieta cidade de Cordilheira,
com suas casas de madeira e o trabalho ferroviário ao dirigir
Doramundo, estrelado por Antonio Fagundes, Irene Ravache
e Rolando Boldrin. Pelé também contracenou em A
Marcha junto às casas de madeira da Vila. Da mesma
forma, o cineasta José de Anchieta rodou seu Parada
88, um filme explorando tema ecológico e estrelado
por Regina Duarte. Um filme de curta metragem, Alerta Final,
também foi filmado no povoado.
As cenas de
desembarque dos imigrantes japoneses em Gaijin, de
Tizuka Yamazaki, também foram rodadas na antiga estação.
Muitos filmes para publicidade e até uma novela, Um
Homem muito Especial, se utilizaram da cidade, dos cenários
naturais que ela oferece, como a antiga estação
e as casas de madeira da Martin Smith.
Aula
de arquitetura e engenharia
Naturalmente,
Paranapiacaba não só oferece o seu cenário.
Possui vegetação exuberante, formando uma imensa
reserva biológica. Um clima agradabilíssimo como
também uma boa água colhida da serra são
requisitos que a torna rota de excursionistas e escoteiros, além
de centro de atenções de estudantes, de todos os
níveis, à procura de um pouco de história.
Eles acabam por encontrar uma verdadeira aula de história
da técnica e da engenharia nas obras de arte da construção
ferroviária mostradas in loco na Vila e na Serra do Mar
e também de uma mostra de exemplos significativos da arquitetura
e do sistema construtivo em madeira da Vila Martin Smith e sua
implantação exemplar. Oferece, assim, um roteiro
de visitação interessante pelo seu aspecto pedagógico-cultural
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Para não deixar a Vila acabar
Após
a encampação, em 1946, pelo governo federal, aos
poucos os sistemas ferroviários originalmente construídos
em 1867 e 1901, para a subida e descida da serra, foram sendo
substituídos e desativados. Hoje, este patrimônio
cultural imenso, constituído pelos equipamentos ferroviários,
funiculares, vila operária e seu entorno próximo,
formando o Sistema Paranapiacaba, apesar de tombado como um bem
cultural, padece, necessitando de urgente intervenção
no sentido de inverter o seu rápido estado de degradação
física. Atualmente, sérias e contínuas ameaças
de descaracterização, instituídas, comprometem
irreversivelmente todo este complexo.
Portanto,
em respeito a pelo menos seu memorável passado, necessita-se
com urgência repensar e redirecionar sua destinação
e medidas que impeçam a deterioração de seu
espaço constituído pelo patrimônio arquitetônico
e ferroviário. A gravidade da situação exige
uma postura da sociedade como um todo, pois tomando a Vila de
Paranapiacaba como exemplo, o momento exige seriedade de todos
os órgãos que têm o dever de zelar pelas condições
de preservação dos nossos bens culturais. A SPR
Paranap, por meio da Semana do Ferroviário, está
fazendo a sua parte.
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