(Texto: Amélia
Fernandez N. Gonzalez)
Manter a
forma em caminhadas no maior jardim frontal de praia do mundo.
Por incrível que pareça, esse privilégio
pode ser usufruído em Santos, a 70 Km da capital paulista,
como reconhece o Guinness Book. De quebra, confere-se que os encantos
do município vão muito além dos jardins.
Faz pouco tempo que a cidade, que recebeu a primeira leva de imigrantes
japoneses em 18 de junho de 1908, começou a se importar
em exportar sua história, com destaque para o Centro e
seu porto, as igrejas coloniais, seus casarios comerciais coloridos.
Quem chega
de ônibus pode solicitar folheteria no Posto de Informações
Turísticas da Rodoviária. Como as alternativas são
variadas, o mais indicado é comprar um bilhete da Linha
de Ônibus Conheça Santos, que opera aos sábados,
domingos e feriados, e dar um giro pela cidade. O circuito abrange
19 equipamentos da praia e do Centro. O Centro Histórico
guarda diversas riquezas, como o Museu de Arte Sacra, que tem
acervo de 400 peças e a imagem centenária da primeira
padroeira da cidade, Santa Catarina de Alexandria.
A devoção
a Catarina foi substituída pela de Nossa Senhora do Monte
Serrat quando, durante um ataque de corsários, o povo buscou
refúgio na capela do monte. A história torna o passeio
ao Monte Serrat imperdível, sem falar no friozinho no estômago
para atingir o cume por bondinho que funciona sobre trilhos, em
sistema funicular.
No Pantheon
dos Andradas relembra-se que um dos nomes mais ilustres da história
do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva, nasceu
em Santos. Dizem que foi por capricho que Dom Pedro I deu ao amor
de sua vida, dona Domitila de Castro, o título de Marquesa
de Santos. Vingança do monarca, por José Bonifácio
não aceitar as escapadelas imperiais... Todo em mármore
negro, o panteão requer uma visita pelo aspecto histórico,
já que lá descansam os restos mortais do Patriarca
da Independência e de seus irmãos.
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República do café
Vista interna do Bolsa Café
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Jardim Botânico atrai milhares de pessoas
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Mais que um
monumento de beleza arquitetônica refinada, a Bolsa Oficial
do Café simboliza o produto made in Brazil que dá
certo. Na Sala de Pregões, o piso em mármore de
Carrara, o cadeirado em jacarandá-da-baía e o teto
com vitrais de Benedito Calixto ostentam a riqueza que o café
esbanjou pelo município, nas primeiras décadas do
século XX.
Visitar Santos
e não saborear um cafezinho na Cafeteria da Bolsa é
um contra-senso. Até porque a atividade cafeeira da cidade
ainda reúne, em torno da mesma mesa, corretores e fazendeiros
brasileiros ao lado de comerciantes de várias nacionalidades,
resultando num saldo bastante positivo para a balança comercial
do Brasil.
O projeto
Alegra Centro, que visa a recuperação do Centro
Histórico de Santos e tem como fonte de inspiração
a época de ouro do café, prevê a reforma dos
armazéns I, II, III e IV da Companhia Docas do Estado de
São Paulo (Codesp), empresa que administra o porto. Eles
concentrarão atividades de lazer e cultura, nos mesmos
moldes do porto de Lisboa, em Portugal, e Puerto Madero, na Argentina.
A praça
Marquês de Monte Alegre é uma das etapas do projeto.
Este ano ela recebeu enorme calçadão, onde mosaicos
brancos, pretos e cor de ferrugem desenham grãos de café.
Os detalhes são completados por postes antigos, em formato
de S e canteiros de concreto. Na praça ficam a Igreja Santo
Antônio do Valongo e a antiga estação da estrada
de ferro Santos-Jundiaí, construída pelos ingleses
da São Paulo Railway Company.
O trecho é
interrompido apenas pelos trilhos da Linha Turística de
Bonde, implantada pela Prefeitura, em setembro do ano passado,
para incentivar o retorno do Centro ao charme do passado. A vedete
é um bonde da década de 20, com capacidade para
45 passageiros e totalmente restaurado em suas características
originais.
O itinerário
destaca a variedade arquitetônica de Santos, desde o barroco
até o contemporâneo. Ele tem início na Praça
Mauá, reformada na primeira gestão do prefeito Beto
Mansur e onde se localiza o Palácio José Bonifácio,
sede do Executivo santista.
Dentre outras
atrações, ele passa pela Casa de Frontaria Azulejada,
onde estão guardados vários documentos da Fundação
Arquivo e Memória de Santos; pelo prédio onde desembarcavam
os imigrantes portugueses, espanhóis, italianos, japoneses;
pelo Conjunto do Carmo, que tem igrejas barrocas e celebra missa
em canto gregoriano todo segundo domingo do mês, às
11h00.
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Um passeio
pela orla marítima
O Aquário, com várias espécies, é
passagem obrigatória
Os 13 Km
do maior porto da América Latina deixam muita gente de
boca aberta com esse trecho da Linha Conheça Santos. Ver
os guindastes enormes, observar os portainers gigantescos, admirar
um transatlântico de perto e sonhar com terras dalém
mar...
Acaba o porto
e começa a Santos que os turistas habitués da cidade
conhecem. Está ali a mureta da Ponta da Praia, sempre empenhada
em conter os avanços da água, quando o mar se enfurece.
Está ali o Aquário com seus peixes, tubarões,
tartarugas, pingüins e o lobo-marinho, que substituiu o leão-marinho,
morto em 98, de velhice. Está ali o jardim, que deixou
os santistas com um sorriso de orelha a orelha porque o Guinness
Book reconheceu que esse tapete verde corresponde ao maior jardim
frontal de praia do mundo.
Nada mais
justo! Com 5.335 m de comprimento, 218.800 m2 de área e
largura entre 45 e 50 m, o jardim arremata de verde toda a faixa
de areia da praia. Há 1.746 árvores, na maioria
palmeiras e chapéus-de-sol, 719 canteiros, 77 espécies
de flores, 19 qualidades de arbustos. E um perfume que só
quem chega de fora costuma sentir. Os santistas simplesmente esnobam
com um já me acostumei....
Ao longo da
orla há seis postos de salvamento. Mas a cidade não
se orienta por eles, como acontece no Rio de Janeiro. Em Santos,
esses equipamentos abrigam também Biblioteca (Posto 6),
Gibiteca (Posto 5), Cinearte (Posto 4), Escolinha de Esportes
Radicais (Posto 2) e Guarda Municipal (Posto 1). Os santistas
se orientam pelos canais. Do Canal 7, na Ponta da Praia, ao Canal
1, no José Menino, são cerca de 7 Km de uma só
praia, que vai ganhando diferentes denominações,
de acordo com os bairros.
No trajeto
há vários pontos de visitação, como
o Museu de Pesca (entre os Canais 6 e 7), fechado durante cerca
de dez anos e devolvido ao público em 1998, depois de reforma.
A estrela do acervo é o esqueleto de uma baleia de 22 metros.
Entre os Canais
3 e 4 existem a Pinacoteca, a Igreja do Embaré e feira
de artesanato. A Pinacoteca Benedicto Calixto fica num casarão
branco, único remanescente das residências dos barões
do café, construídas nas avenidas da praia, a partir
do princípio do século XX. Ela mantém uma
exposição permanente das pinturas de Calixto, além
de mostras temporárias de artistas nacionais e estrangeiros.
Em madeira
entalhada, os altares, confessionários e púlpitos
da Basílica Santo Antônio do Embaré foram
caprichosamente restaurados. Ficou uma beleza! Agora os padres
franciscanos estão cuidando da parte externa da igreja.
Cidade turística
não sabe passar sem feira de artesanato. Em Santos ela
acontece aos sábados, na marquise da praia do Boqueirão
e, aos domingos, em frente ao Sesc, numa praça paralela
à praia de Aparecida, mesmo nome do bairro onde recentemente
foi erguido o Praiamar Shopping Center.
Existem outros
pontos para extravasar o consumismo, como o Centro Comercial do
Boqueirão, na altura do Canal 4, os shoppings Parque Balneário
e Miramar, ambos no Gonzaga (Canal 3), que é o bairro de
maior agito comercial e de lazer da praia, além de galerias
em vários bairros e as tradicionais lojas do Centro. Mas
somente o Praiamar apresenta a modernidade dos shoppings de São
Paulo, inclusive porque abriga dez salas de cinema.
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