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Ilha Grande
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Paraíso
ecológico foi descoberto por nikkeis
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(Arquivo NB)
Ilha Grande,
a maior das mais de 300 ilhas do litoral de Angra dos Reis, no
Rio de Janeiro, hoje paraíso dos ecoturistas com suas 106
praias além de cachoeiras, riachos e uma vegetação
exuberante passou a ficar mais conhecida depois que descendentes
de japoneses que moravam no local passaram a investir no ecoturismo.
Antes disso, só alguns mochileiros se aventuraram pela
ilha.
Em 1871 foi
construido ali um lazareto para receber viajantes e imigrantes
em quarentena e suspeitos de portarem doenças infecciosas,
como a lepra. Depois disso, veio o presídio, onde nomes
como o escritor Graciliano Ramos, o deputado Fernando Gabeira
e mais recentemente o traficante Escadinha, ficaram presos.
Nos anos 80,
as famílias nikkeis que não podiam mais trabalhar
com a pesca (veja o boxe com a história dos nipo-brasileiros
na ilha), mudaram de atividade e o casal Kiyoshi e Noriko Nakamashi
juntamente com Keiko Hadama, netos do primeiro nipônico
a chegar na ilha, foram os pioneiros a investir nos grupos de
excursões vindos de São Paulo (a maioria descendentes
japoneses) para visitar a ilha.
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Mata preservada
Nessa
época, apesar de toda a beleza natural da ilha, com uma
mata atlântica preservada cheia de animais silvestres (pássaros,
macacos, etc), rios e cachoeiras, o turismo era inexistente. O
mito de ilha maldita por causa do presídio
de segurança máxima que existia ali (o presídio
só foi desativado em 1994), fazia com que ninguém
se atrevesse a investir na área turística,
conta Marcelo Hadama, filho de Keiko.
A
primeira excursão foi no ano de 1987, não havia
pousada, improvisamos algumas camas no galpão onde antes
funcionava a fábrica para acomodar o pessoal. Eram na maioria
descendentes de japoneses também. Separávamos homens
de mulheres. Os homens eram ficavam na parte onde antes haviam
os tanques de sardinha e as mulheres se acomodavam na câmara
frigorífica, conta Kiyoshi Nakamashi (também
neto do pioneiro).
De
1987 para cá, os descendentes que ainda não haviam
se desfeito das propriedades na ilha, começaram a investir
em pousadas. Hoje elas são muito diferentes do improvisado
início. Estes estabelecimentos hoje contam com restaurantes,
apartamentos com varanda de frente para o mar, banheiro privativo,
ventilador de teto, alguns tem TV, ar e frigobar. A maioria das
pousadas possuem barcos para passeios, mergulho e pescaria.,
conta Marcelo Hadama que trabalha com o ecoturismo na ilha.
As primeiras excursões levaram, na maioria, nikkeis
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Roteiros paradísiacos
Na
Lagoa Azul, o mergulhador se sente dentro de um verdadeiro aquário
Quem
desembarca pela primeira vez na pequena Vila do Abraão
(veja boxe como chegar), nem imagina tudo que a ilha tem para
oferecer. De seu cais saem passeios de barcos e escunas para todos
os pontos da ilha. O lado voltado para o continente é formado
por praias de águas tranqüilas e transparentes (apesar
de junho ser um pouco mais frio é a época ideal
para quem gosta de mergulhar, porque as águas estão
mais claras do que nunca!).
Mergulhar
na Lagoa Azul é como estar em um verdadeiro aquário
natural, local preferido dos milionários que passeiam pela
região, lá você pode encontrar vários
iates ancorados. Outro ponto de mergulho só com máscara
e snorkel imperdível é o Saco do Céu, onde
nas noites de lua cheia, pode se ver as estrelas refletidas na
água.
Para
quem gosta de águas menos tranqüilas, as praias de
mar aberto oferecem boas opções para surfistas.
Lopes Mendes e a praia do Aventureiro são as mais procuradas.
Mas as atividades não se resumem às aquáticas,
pela Mata Atlântica, trilhas cortam toda a ilha e alcançam
o Pico do Papagaio, com uma visão 360 graus da Ilha Grande
a seus pés.
A agitação
noturna acontece só na Vila do Abrãao, nos barzinhos,
onde o pessoal mais jovem se reúne. Quem quer só
curtir a natureza pousadas em outras praias são mais tranqüilas.
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O
pioneiro na ilha
Nesse pier, barcos descarragavam a pesca para ser processada
nas fábricas
Ushizuke
Nakamashi, chegou ao Brasil no segundo navio vindo do Japão
e como a maioria dos descendentes, foi trabalhar nas lavouras
do interior paulista. Com um certo espírito empreendedor
(aliado a não adaptação ao campo), percebeu
que havia uma carência de produtos alimentares nipônicos,
geralmente à base de peixe. Abandonou a lavoura e se aventurou
a percorrer o litoral paulista. Com toda sua família, saiu
de Santos, e perambulou pelo litoral ate chegar a Ilha Grande.
Começou a pescar e a processar os pescados transformando-os
em washibushi e dashiko (temperos à base de peixe), distribuindo
o produto pelas colônias japonesas no interior paulista.
Depois
de Nakamashi várias famílias se mudaram para a ilha
para trabalhar com o pescado. Começaram a salgar sardinhas,
que eram prensadas em latas de 10 kg e vendidas para intermediários,
responsáveis pela distribuição pelo território
nacional. Grandes barcos atracavam nos piers em frente aos
galpões descarregando toneladas de sardinhas. Cada fábrica
empregava diretamente cerca de 40 pessoas que somados aos pescadores
dos barcos traineiras fornecedores das sardinhas, representava
uma atividade que sustentava aproximadamente 2.000 famílias
ou 12 mil pessoas, conta Yoshitoku Hadama, descendente dos
primeiros nikkeis na região.
Segundo
ele, a indústria pesqueira liderada pela colônia
japonesa na ilha chegou ao auge nos anos 60, época em que
representava a principal atividade econômica do município
de Angra dos Reis: Nesta época os descendentes nipônicos
já possuíam aproximadamente 24 fabricas espalhadas
pelas praias da Ilha Grande e Ilha da Gipoia., conclui.
Em
meados de 75, essas fábricas foram obrigadas a fechar.
Vários fatores são apontados pela falência,
mas o principal deles foi a falta de uma legislação
que regulamentasse a pesca na região. Pescava-se o ano
inteiro sem nenhum tipo de controle dos órgãos ambientais,
o que acarretou o desaparecimento deste peixe na região.,
explica Hadama, 59 anos de idade, das quais 55 morando na região.
Hoje
o turismo na Ilha Grande representa um grande negócio,
mas a atividade tem que ser desenvolvida com inteligência
e critérios. Temos que rever a história de nossa
família e perceber que a exploração em massa
não oferece bons resultados a longo prazo como vimos com
o que aconteceu com a atividade industrial pesqueira. O turismo
na ilha é o grande filão do momento, mas se não
for explorado de forma auto-sustentável ou ecológica
vai se deteriorar em poucos anos , enfatiza Marcelo.
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Arquivo
NippoBrasil - Edição 209 - 4 a 10 de junho de 2003 |
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