Até
que ponto as comemorações do centenário da imigração
ajudaram a impulsionar as relações bilaterais?
Um dos maiores problemas no relacionamento entre os países é
o desconhecimento sobre o outro. Acho que as comemorações
têm essa preocupação de ampliar o conhecimento mútuo.
Conseguiremos
manter o nível de diálogo e atenção obtidos
com o centenário tão logo o ano acabe?
Espero que saibamos redinamizar isso. Lógico que será
diferente. Não haverá mais o artifício fácil
das comemorações do centenário, mas haverá
o mais importante, que é a parceria estreitada entre Brasil e Japão.
Não queremos mais ser compradores ou vendedores; queremos ser parceiros
do Japão. Queremos maiores investimentos, joint venture, coordenações
em termos de política externa. Isso é o que dois países
que se ombreiam devem fazer.
Aos olhos
das autoridades e da sociedade japonesa, o Brasil alcançou patamar
mais elevado?
As comemorações são um pano de fundo. As relações
entre Brasil e Japão, em seu contexto mais profundo, continuaram
se desenvolvendo muito bem. A Petrobras, com esse primeiro importante
investimento no Japão, que foi a compra da refinaria Nansei Sekiyu,
em Okinawa, poderá criar uma ponte para o futuro lançamento
do etanol. Em termos de comércio, o Brasil e o Japão aumentaram
muito os seus fluxos.
O que ficou
pendente da sua agenda de trabalho para o diplomata que irá sucedê-lo?
Todo embaixador gosta de dizer que depois de minha chegada,
tudo se modificou. Mas isso não é verdade. Antes de
eu chegar, Brasil e Japão já tinham recebido um impulso
extraordinário por conta das visitas do premiê Junichiro
Koizumi ao Brasil e do presidente Lula ao Japão. Esses dois eventos
criaram uma densidade que só pude ajudar a consolidar em muitos
aspectos e a dinamizar em outros.
As discussões
sobre previdência e educação avançaram?
Incrivelmente. E aí eu tenho de reconhecer e agradecer as
autoridades japonesas. O Japão incorporou o estrangeiro à
sua sociedade. Os japoneses têm sensibilidade para os problemas
dos outros. No caso da previdência, eles aceitaram negociar esse
que era um tema tabu.
O que acha
das discussões que estão ocorrendo sobre mudanças
na Lei da Imigração?
Antes, é bom esclarecer que não nos interessa que os
brasileiros saiam do Brasil. Quem quiser convidá-los a vir para
cá, que defina os termos. O que precisamos é garantir que
o brasileiro seja bem tratado e que tenha as oportunidades que todos terão.
Agora, em que termos a sociedade vai decidir isso cabe a ela decidir.
Se for contrário ao interesse do brasileiro, reagiremos. Se não
for, vamos aplaudir.
Mudou muito
o perfil da comunidade desde que o senhor assumiu a Embaixada?
Desde que cheguei aqui, ouvia que o brasileiro é trabalhador,
muito procurado pelos empresários japoneses. E eu, pessoalmente,
tenho uma admiração monstruosa pelos brasileiros. É
de uma imensa coragem você sair de seu país e aqui comportar-se
de uma maneira tão elevada como eles se comportam.
Como avalia
o tempo em que ficou no Japão?
Queria ter ficado mais. Na carreira diplomática, ser embaixador
em Tóquio, em si, já é um privilégio pela
importância que o Japão tem no Brasil. Nas circunstâncias
de estarmos comemorando o centenário da imigração,
esse privilégio ficou dobrado. Pude aproveitar uma série
de impulsos para trabalhar melhor temas de interesse do Brasil.
Qual será
a maior lembrança que o senhor levará do Japão?
A lembrança é minha filha, Helena, que nasceu em julho.
Obviamente que tudo o que penso e sinto em relação ao país
estará sempre acrescido por essa inigualável lembrança.
Ela terá sempre no passaporte como lugar de nascimento, Tóquio,
Japão.
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