Chamusca
levou o Oita Trinita ao título da Copa Nabisco no final do
ano
|
Quem é Péricles Chamusca
Formado em Educação Física, Péricles
Chamusca não foi jogador profissional. Apesar de ter feito
parte da equipe juvenil do Vitória, da Bahia, seu ofício
sempre foi fora das quatro linhas. Tanto que, em 1987, com apenas
22 anos, já trabalhava no departamento das categorias de
base do Bahia.
Em
95, já à frente do Vitória, era o mais jovem
treinador do Brasil a dirigir uma equipe da Primeira Divisão
do Brasileiro, com 29 anos. Seu grande momento, no entanto, foi
em 2002, quando levou o Brasiliense à final da Copa do Brasil
contra o Corinthians, ocasião em que acabou ficando com o
vice-campeonato.
Em
2004, porém, Chamusca finalmente conseguiu o título
da competição, ao levar o Santo André a bater
o Flamengo na decisão em pleno Maracanã. No mesmo
ano, transferiu-se para o São Caetano, onde ficou até
o final da temporada.
No
começo de 2005, Chamusca foi comandar o Goiás, clube
pelo qual disputou apenas parte do primeiro semestre, quando passou
a dirigir o Botafogo do Rio de Janeiro. Desde agosto de 2005, é
treinador do Oita Trinita.
|
(Reportagem:
Luis Yuaso / ipcdigital.com | Foto: Kyodo)
Em 2005, Péricles
Chamusca resolveu mudar completamente o rumo de sua carreira. Após
despontar no futebol brasileiro como um dos técnicos mais promissores
de sua geração, o baiano, que tem 43 anos, aceitou um convite
do desconhecido Oita Trinita. Um clube que, se não era pequeno,
nunca havia tido destaque no Japão.
A escolha,
no entanto, nunca despertou arrependimentos no treinador. E ele foi recompensado.
Em quatro anos à frente da equipe, Chamusca tem conduzido o Oita
a uma posição de destaque no cenário japonês.
Provas disso são os resultados da última temporada: além
da boa quarta colocação na classificação final
da J.League, o Oita abocanhou o título da Copa Nabisco, a primeira
grande conquista da história do clube.
Graças
aos resultados, ele passou a ser cotado até mesmo para assumir
o comando da seleção japonesa. Convite que diz esperar ansiosamente:
Eu me sinto pronto para realizar esse trabalho, afirma. Embarcando
na onda, a editora Kodansha vai lançar, em fevereiro, um livro
do treinador intitulado O mágico Chamusca.
Coincidência
ou não, duas das publicações da empresa tiveram outros
técnicos como autores: o japonês Takeshi Okada e o brasileiro
Zico. Este último dirigiu o Japão na Copa de 2006, enquanto
o primeiro, além de comandar a equipe na Copa de 1998, é
o atual treinador da seleção nipônica.
Se Chamusca
de fato assumir a seleção japonesa, seria o terceiro brasileiro
a fazê-lo. O primeiro foi Paulo Roberto Falcão, no princípio
da década de 90, antes mesmo da profissionalização
do futebol no país. Zico comandou o escrete nipônico após
a saída do francês Phillipe Troussier em 2002.
Em entrevista
exclusiva ao International Press, Chamusca fala de sua vida no Japão,
do futebol praticado na J.League e, é claro, do sonho de dirigir
a seleção.
|
O Oita Trinita
conquistou a Copa Nabisco e passou a temporada brigando pelas primeiras
posições da J. League. Você acha que 2008 foi seu
melhor ano no Japão?
Na verdade, estamos em evolução. O primeiro ano foi
o de afirmação do trabalho. Quando cheguei, a situação
era diferente. Era meio de temporada e o time estava na zona de rebaixamento.
A equipe estava há 12 jogos sem ganhar e, após minha chegada,
fizemos sete partidas com seis vitórias e um empate. A partir daí,
em 2006, ficamos entre os oito, o que, para o clube, foi um resultado
muito bom, já que o Oita sempre brigou para não cair. Em
2007, o primeiro semestre não foi muito bom, mas acertamos a equipe
no final da temporada e montamos uma base forte para 2008, quando os jogadores
japoneses, estrangeiros e recém-contratados se encaixaram.
Você
foi vice-campeão da Copa do Brasil em 2002, com o Brasiliense,
campeão em 2004, com o Santo André, e, agora, em outra copa
com o Oita. Você se considera um técnico copeiro?
Encaro todo jogo como decisivo. Por já ter vencido títulos
desse tipo no Brasil, os jogadores sentem-se mais confiantes e essas conquistas
ajudam a alimentar o ambiente ideal para o torneio. Além disso,
o momento da equipe foi primordial, já que superamos muitas dificuldades,
como lesões de vários jogadores importantes.
A adaptação
ao país foi tranquila?
Eu me adaptei a tudo: ao trânsito, ao volante do lado direito,
à comida. Além disso, eu me adaptei à postura dos
japoneses e gostei da segurança que a gente sonha em ter no Brasil.
Você
era muito especulado no Brasil há três, quatro anos, e, agora,
seu nome já não é lembrado com tanta frequência.
Em algum momento, você se arrependeu de ter optado por trabalhar
no futebol japonês?
Nunca. Conheci a excelência de organização da
J. League e me adaptei às questões táticas, com o
jeito do japonês trabalhar. No Brasil, trabalhava com um nível
de pressão mais alto com o jogador. No Japão, é mais
incentivo, apoio. Para lidar com o atleta japonês, tem que ser diferente
e eles são muito disciplinados taticamente. Fica fácil trabalhar
essa parte e o formato da J.League também ajuda. Nunca consegui
fazer um trabalho como o que faço no Japão no Brasil, com
esse nível de detalhe. Eu me senti encaixado nessa realidade.
Você
acha que a J. League está no mesmo patamar das principais ligas
européias?
Não no mesmo patamar. Mas, taticamente, o nível da
J. League é muito alto. Você consegue executar a tática
de uma maneira boa.
E qual país
está na frente taticamente?
Hoje, é tudo muito nivelado. Até o Brasil, que sempre
deixou a parte tática como aspecto secundário, passou a
dar mais valor a isso. Atualmente, o futebol tem que ser sistematizado.
Não dá para depender só da criatividade. É
claro que o mais importante é a adaptação do esquema
aos jogadores e à equipe. Não dá para o Brasil jogar
taticamente como a Itália ou a Inglaterra. Bola longa, cruzamento...
Quando falo parte tática, falo em usar as características
dos jogadores para montar um esquema. Hoje, jogar com três atacantes
não quer dizer que a equipe é ofensiva. O tipo de movimento
é que define. A numeração não é tão
importante. Um esquema 4-5-1, por exemplo, tem um na frente e cinco com
possibilidades de infiltração.
Você
é sempre especulado para assumir o comando da seleção
japonesa. Como lida com isso?
Até fiquei surpreso, porque cheguei pouco antes da Copa da
Alemanha e existe aquela fase de transição, troca de comando
técnico nas seleções e meu nome foi lembrado pela
própria organização da J. League. E também
já expressei isso: meu objetivo, agora, é dirigir a seleção.
Eu me encaixei bem no futebol japonês e me sinto pronto para realizar
esse trabalho. O que sempre falo para os meus jogadores é que temos
que buscar sempre o topo e o topo para um técnico é a seleção.
Conheço os jogadores e tenho até uma forma com a qual a
equipe poderia jogar.
Essa especulação
não atrapalha seu dia-a-dia no Oita?
Não. O foco aumenta, a motivação aumenta. Uma
coisa importante para dirigir a seleção é manter
bons resultados. Conquistamos um título agora e tenho que ter uma
temporada boa em 2009, boa em 2010, e, aí sim, existe uma possibilidade
concreta de eu assumir a equipe. Minha idéia é dirigir o
Japão na Copa do Brasil (em 2014). O Japão vai jogar em
casa (risos).
Depois de
anos no Japão, você pensa em voltar ao Brasil?
Penso. Depois de conquistar meus objetivos, como dirigir uma seleção,
quero ter a oportunidade de voltar ao Brasil. Mas em um clube que tenha
projeto, uma proposta boa de trabalho e que esteja nos padrões
aos quais eu esteja habituado no Japão.
|