Nakamoto
alerta pais e professores
sobre as dificuldades das crianças
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(Reportagem
e Foto: Yoko Fujino/NB)
Prevendo
o aumento de crianças que não falam o português no
Brasil por causa do retorno dos trabalhadores demitidos no Japão,
o professor Shiro Nakamoto alerta pais e professores sobre as dificuldades
que essas crianças enfrentarão no retorno ao País.
Ele é o diretor do Centro de Herança da Língua Japonesa
(Shoukei Nihongo Kyouiku Center), do Kaigai Nikkeijin Kyoukai, entidade
encarregada de difundir a língua japonesa no mundo, mas que, ultimamente,
tem ajudado os estrangeiros que moram no Japão, mas não
compreendem a língua.
Com experiência
em cuidar de projetos de adaptação de alunos estrangeiros
às escolas japonesas, muitas delas brasileiras, Nakamoto falou
sobre as dificuldades que vários filhos de brasileiros terão
ao retornar à terra natal de seus pais.
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NippoBrasil:
Com as demissões de trabalhadores no Japão, prevê-se
que grande número de filhos de brasileiros, muitos deles que não
falam português, voltem ao Brasil. Que tipo de conselho o senhor
daria aos professores das escolas que receberão essas crianças?
Shiro Nakamoto: O que os professores podem fazer mudará de
acordo com a idade, com o tempo que a criança passou no Japão
e também de quanto ela domina da língua portuguesa. De qualquer
jeito, elas sofrerão com a restrição de conhecimento
da língua portuguesa. Será exigido dessas crianças
que elas se adaptem à vida escolar, que façam amigos. Os
professores precisam ajudá-los nessa tarefa. Em segundo lugar,
vêm os estudos propriamente ditos. O que o aluno precisa para acompanhar
o nível dos demais colegas? O professor precisa estar ciente dos
problemas psicológicos e pedagógicos.
NippoBrasil:
E quanto à idade?
Shiro Nakamoto: As crianças que voltarem antes de fazer 10
anos terão menos dificuldades em se adaptar ao Brasil, porque o
processo de desenvolvimento linguístico ainda não está
completo. Mas, quando ela está maior, já é adolescente,
o japonês já é a sua língua de referência.
Ela precisará mudar a sua referência, então o aprendizado
se tornará mais difícil. Além disso, nessa fase,
o adolescente já precisa aprender a estudar por conta própria,
precisa aprender os métodos de resolver as questões sozinho.
NippoBrasil:
No que os pais devem prestar atenção?
Shiro Nakamoto: O estresse que as crianças sentem é
bem maior do que os pais imaginam. Os pais estão voltando para
a terra natal, portanto sentem pouca resistência. Mas, no caso das
crianças, mesmo que tenham nascido no Brasil, se foram ao Japão
muito pequenas, não se recordarão do País. Estarão
se mudando para um país totalmente estranho e sentirão a
diferença cultural. Ainda estarão se separando dos amigos
com quem conviveu, então precisarão fazer novos amigos,
além de se esforçar para acompanhar os estudos na escola,
mesmo não dominando o português. Mesmo não expondo
em palavras, as crianças têm essas duas grandes inseguranças
e os pais precisam enfrentar junto com ela essas questões. Eles
devem estimular o diálogo, ouvir o que elas têm a dizer.
Juntamente com o professor, precisam prestar atenção aos
sinais emitidos pelas crianças.
NippoBrasil:
No caso de crianças que entendem pouco o português, o que
o estudo continuado do japonês pode significar?
Shiro Nakamoto: Quando a criança entende melhor a língua
japonesa, falar em japonês garante segurança emocional. Por
isso, é importante levá-la a algum lugar onde ela pode se
comunicar nessa língua, pelo menos uma vez por semana. Em japonês,
falamos criar espaço que garanta bem-estar. As crianças
precisam de algum lugar, fora do lar, onde se sintam bem. E quem pode
oferecer esse espaço, atualmente, é a escola de línguas.
Lá, elas podem se comunicar com crianças da mesma faixa
etária.
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