Sachio
Miura: vindas anuais ao Brasil
para pesquisa sobre a doença
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O
que é a doença de
Chagas e como é transmitida
A doença
de Chagas é uma infecção causada pelo protozoário
Trypanosoma cruzi, normalmente transmitido pelas fezes do inseto
barbeiro durante a picada. É responsável por uma média
de 21 mil mortes anuais, sobretudo na América Latina. No
período inicial, causa apenas inchaço nos local infeccionado,
mas, com o decorrer do tempo, em período
que chega a 20 anos, pode causar graves problemas cardíacos
e intestinais e levar à morte. Ainda não há
vacinas e meios de cura eficiente para o mal.
O inseto
barbeiro é mais comum na zona rural, por frequentemente se
alojar em casas de pau-a-pique. Ele contrai o protozoário
causador do mal ao picar mamíferos infectados, incluindo
o homem. A contaminação também pode ocorrer
por transfusão de sangue ou de mãe para filho.
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(Reportagem:
Helena Saito/IPC | Foto: Cedida)
O médico
Sachio Miura, 62, anos, costuma vir ao Brasil todos os anos para aprofundar
seus conhecimentos sobre a doença de Chagas. Professor de medicina
tropical e parasitologia na Faculdade de Medicina da Universidade Keio,
ele é o único especialista japonês sobre o assunto
e faz um alerta para os brasileiros que vivem no Japão. Há
casos de doenças na comunidade e os portadores podem não
estar sabendo.
Segundo Miura,
a doença está na comunidade no Japão porque regiões
como o interior de São Paulo, Paraná e a região Centro-Oeste,
que concentram descendentes de japoneses, são pontos de proliferação
do mal. Como a doença não existe no arquipélago,
os sintomas não são facilmente diagnosticados pelos médicos
locais, o que já resultou na morte de brasileiros. Além
disso, o pesquisador alerta que é preciso ficar atento para não
contaminar outras pessoas por transfusão de sangue.
Único
a realizar o exame preventivo no Japão, atualmente Miura coordena
um programa do governo japonês para identificação
e controle da doença de Chagas voltado não só a sul-americanos,
mas também a japoneses que viajam para a América do Sul
e retornam ao arquipélago. Fazem parte do trabalho palestras de
conscientização a médicos e comunidades de estrangeiros.
Em agosto,
Miura estará mais uma vez no Brasil e deve visitar a região
Nordeste. Retorna ao Japão em novembro para discutir medidas de
prevenção nos bancos de sangue e pesquisar novas formas
de tratamento.
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Por que
você se interessou pela doença de Chagas?
SACHIO MIURA: Esse mal manifesta-se principalmente na América
do Sul, sobretudo, no Brasil. Como eu gosto do País, interessei-me
pelo assunto. Além disso, sinto gratidão à comunidade
nikkei pelo apoio quando estive pela primeira vez lá. Muitos descendentes
tinham a doença e precisavam de medidas preventivas. Com a vinda
de muitos deles ao Japão, a partir de 1990, os casos começaram
a se manifestar aqui também. Desde então, recebo consultas
de hospitais de diversas partes do país. Interessei-me em saber
a situação real e o percentual dos brasileiros portadores
porque ele pode se tornar ativo no sangue após anos de contaminação,
o que requer diagnóstico correto para evitar a morte.
Todos que
foram picados pelo barbeiro manifestam os sintomas?
MIURA: Não, 70% não manifestam, porque o inseto não
necessariamente contém o agente causador. Mas em caso de contaminação,
os sintomas podem levar até 40 anos para se manifestar. Ainda não
se sabe o que causa a ativação.
Por que
muitos descendentes de japonês no Brasil têm a doença?
MIURA: Algumas regiões de concentração de nikkeis,
como Goiás, cidades de São Paulo, como Cafelândia,
Lins, Ribeirão Preto e Marília, e do Paraná, como
Londrina e Maringá, são focos de proliferação.
Os japoneses que chegaram lá não sabiam a respeito da doença,
por isso não tinham como evitá-la. Aqui no Japão,
muitos descendentes acham que não têm a doença porque
as casas em que moravam eram limpas. Mas minhas investigações
apontam que alguns deles têm parentes ou conhecidos que já
morreram pela enfermidade. Os não descendentes parecem estar mais
cientes da situação, suspeitando da doença e informando
os sintomas com mais precisão aos médicos por conhecerem
os riscos. Isso é importante, pois a demora no tratamento pode
causar a morte.
Existe algum
caso assim no Japão?
MIURA: Sim. Um nikkei de Mesópolis (SP) teve a doença
de Chagas detectada no Brasil e passou por tratamento. Sentindo-se melhor,
veio ao Japão para trabalhar. Começou sentir os sintomas
da doença de novo, mas, ao procurar um médico, ouviu que
era estresse. Mudou de trabalho, então, mas obviamente não
adiantou: ele desmaiou e teve morte súbita. Outra vítima
foi uma mulher de 27 anos em 2003. Ela veio de Campo Grande (MS) em 2001
e sabia ser portadora do agente causador, mas não fazia tratamento
por não ter sintomas. Ela havia sido contaminada por transfusão
de sangue. No Brasil, o exame para saber se o doador está infectado
começou apenas em 1980, então ela deve ter recebido sangue
antes disso. No Japão, fiz o controle dos problemas que ela teve
no coração causados pela doença, mas ela faleceu
seis meses após retornar ao Brasil.
Quais os
sintomas da fase grave?
MIURA: Arritmia cardíaca e falta de ar, causadas pelo aumento
do tamanho do coração. No caso do intestino, é mais
difícil de diagnosticar. Um dos sintomas é a dificuldade
para engolir e evacuar.
Qual o tratamento?
MIURA: É preciso verificar constantemente o funcionamento do
coração, com a ajuda de um cardiologista. Às vezes,
é necessário transplante ou implantação de
marca-passo. Dos 41 casos que verifiquei até o momento, acompanho
15. Outros cinco estão em tratamento. No caso de problemas intestinais,
é possível resolver com a retirada da parte afetada do órgão.
O senhor
tem algum alerta aos brasileiros que vivem no Japão?
MIURA: Foram identificados recentemente casos de contaminação
pela alimentação. Ao extrair o líquido de açaí
ou cana-de-açúcar, por exemplo, o barbeiro, presente nas
folhas dessas plantas, pode ser triturado junto. Nesse caso, a contaminação
pelo Trypanosoma cruzi, é dez vezes mais rápida pela ingestão
que pela picada.
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